sábado, 15 de agosto de 2009

Transcendência e Imanência


É assim o tempo,
Céu cinza, olhares absortos
buzinas
braços e pernas concretos
verticalmente debruçam sobre a cidade.

O vento levemente me encosta.
Os cabelos grisalhos tentam acompanhar o movimento
geométrico de teus braços.

Num frenesi, fico por segundos inerte.
Vida e morte se fundem e confundem.
Segundos, ah, tempo...
por que me consomes, me agrides?
Condutor das mesmices.

Meus olhos veem um oceano
um cais.
Todos partindo
Todos fincando
e eu comendo formigas.
Deliciosamente saborosas.
A vida é um nada.
Alguém, devemente me toca.
Coitado!
mais um no tempo.
Apressa-te!
Apressadamente a morte o come.

O tempo é traidor e rio dele.
Desgraçadamente, rio.
Olho infinitamente as ruas.
Não sei se fico na minha insignificância de ser
ou começo a caminhar entre muitos.

Ouço ecos saindo de dentro de cada um que passa por mim.
Dizendo; Socorro!...
Desesperado, estou!
Maldito sou!
Por que existo?
Quem eu sou?
Carne podre é essa que carrego sobre mim?
Confuso!
Roubei!
Matei!
Quero morrer!
Comunguei!
Pedi a Deus!
Estuprei!
Aceitei!
(...)

Vozes, vozes, vozes...
Estou sem direção.
Por quê? Por quê?
Humanamente sou!
Companheiro da morte!
Ela me espreita a todo momento.
O tempo colabora com minha destruição.

Passos acelerados...
Fugindo de mim.
Estou impregnado de mim.
Fico imóvel novamente.
Colericamente, me rasgo.
Estou sem pele.
Sinto formigas subindo sobre o meu corpo.
E elas, antropofagicamente,
num bailado
alimentando em êxtase.
Alimentem minha alma,
seres alados e eternos!

Minha carne exposta.
Minha vida exposta.
Ninguém me vê.
Todos passam por mim
como se eu não existisse.
Quero gritar, mas não consigo.
Ouço-me cavernosamente.

Dói!
A vida dói!
Ardem-me as chamas do sol.
Quero atravessar a rua.
Ultrapassá-la.
Chegar até mim.
Alguns passos, somente.

Dantescamente destruo os invasores que comem minha carne.
Estúpido tempo!
És a felicidade dos malditos!

Sinto o vento, abruptamente levar o pó, as formigas, meu corpo, minha alma.
Singularmente a vida .
Atravesso a rua...
Vou conseguir chegar ao outro lado?
Corre! Corre!
Alguém do outro lado grita.
Você consegue, corre, corre, corre!

O tempo não parou.

Dó pó retornarás!

2 comentários:

  1. MARAVILHOSOOOOO

    "SENTIMOS A DOR..O PESO DA EXISTÊNCIA PORQUE NELA EXISTE À SOMBRA MORTE; MORTE DO QUE SOMOS, DE QUEM FOMOS, DAQUILO QUE NUNCA TIVEMOS CORAGEM DE SER!MATEI MUITAS VEZES A CRIANÇA QUE EM MIM EXISTIA, NOS MATAMOS A CADA DIA QUANDO NÃO ENCARAMOS A VERDADE E TRAÍMOS A NÓS MESMOS.PABLO NERUDA JÁ DIZIA "MORRE AOS POUCOS ÀQUELE QUE SÓ GOSTA DO MARROM...A VIDA SÓ EXISTE POR CAUSA DELA E É A PARTIR DELA QUE NOS TRANSMUTAMOS!BENDITA SEJA A MORTE DAS COISAS RUINS!"

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